Quem sou eu




MAGALI SCHMITT

Era pra ser gêmeos, segundo os médicos, tamanha a barriga da minha mãe. Naqueles dias gelados de julho de 1970 a medicina ainda engatinhava e em breve o diagnóstico equivocado deitaria por terra. Após um trabalho de parto complicado, cheguei sozinha — segunda filha e aguardavam um menino. Não era homem, mas tinha o peso de dois, o que explicava o barrigão. Acho que por isso, desde sempre ocupei tanto espaço. Em princípio, concentrei minha energia no jornalismo. Mas lá não podia inventar personagens nem histórias, tinha de ser pé no chão. E pé no chão não combina com quem veio ao mundo tendo que superar expectativas. Gente assim precisa de um lugar para exercer seu destino. E esse lugar, para mim, é a literatura. Demorou, mas entendi.


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