Morri em 1976. Mas ninguém percebeu. Fiquei vagando pelo mundo pelo menos mais uns quinze anos ainda. Uma alma vazia. Até que um dia alguém se deu conta e resolveram me enterrar. Eu morri naquele dia frio em que vocês se foram. Não entendi por que não nos encontramos se eu também já estava morto. Não restou nada dentro de mim, nem mesmo força para me matar de novo. Durante aquele tempo, descobri que não há como lutar contra o destino. Eu era aquele único sobrevivente de um desastre aéreo, o único passageiro que restou do acidente de carro, daquele barco que naufragou, da explosão no prédio. Aquelas coisas sem explicação que acontecem, que todos chamam de coincidência, azarão, sorte, mas que para mim passaram a ter uma única explicação: cada um tem a sua hora. Mesmo não sendo a minha, desperdicei todo o tempo que me sobrou tentando achar o meu momento. Mas foi em vão. A morte tem hora marcada. Vem quando quer. E nunca se atrasa.
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