Apaixonou-se por ele antes mesmo de vê-lo, de conhecê-lo
ou saber quem era. De onde vinha. Para onde ia. Não era uma paixão, um amor à
primeira vista. Era mais, muito mais. Deveria haver uma expressão para definir
este sentimento, embora palavra alguma pudesse descrever.
Amor à primeira... o quê? Não importa. O que importava é que ao ouvir seu nome sentiu as pernas tremerem, sentiu um queimor gostoso no baixo-ventre. Bem lá embaixo.
Ele não se chamava Antônio nem Alaor. Nem Fernando ou Vanderlei. Era Ricardo. Apenas Ricardo. Só de pronunciar as sílabas já sentia um arrepio percorrendo sua espinha, desde a lombar até a nuca. Ou seria no sentido contrário?
Ri. Car. Do.
Por isso, amá-lo não foi difícil. Um homem com esse nome deve desnortear qualquer mulher. Qualquer uma. Vocês entendem? Ou não? É fácil menosprezar os sentimentos dos outros. As pessoas sempre dizem que são modernas, que não têm preconceito, que são cabeça aberta.
Cabeça aberta um
cacete.
Fosse assim, não a teriam julgado. Não a teriam
crucificado. Mas sempre há um padrão para tudo. E se você não se enquadra na
moldura esperada, kaput, babaus. É apontado nas ruas, vira alvo de
cochicho, é observado de soslaio.
Pois ela viveu intensamente aquela paixão por Ricardo.
Fosse ele a pessoa certa ou não. E não era. Não tardou a descobrir. Aliás, era
o oposto de tudo que ela esperou e imaginou. Mas isso era coisa deles. Tentava
disfarçar as marcas roxas. Exagerava na maquiagem, usava echarpes, mangas
longas.
Quando chegava ao escritório percebia os olhares de pena,
de desdém, os sussurros. Mas ninguém, de fato, a interpelou, sobre o assunto.
Nunca. Ninguém se interessava além das fofocas e imaginação. E assim a vida
seguia. Eram marcas de amor. Do amor de Ricardo. Um homem com esse nome deve desnortear
qualquer mulher. Qualquer uma.
©bruce-mars-unsplash
Comentários
Obrigada minha escritora favorita!!!