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Premia o pedal da máquina com lentidão quando sentiu as
primeiras dores. O sol já há muito havia
se deitado e a noite assoprava lamentos. Ora sem sentido, ora como um aviso. Mas
sabia esperar com a sabedoria e a paciência de quem espera criança. Endireitou o
tecido, direcionou a luz do lampião e voltou à costura. Horas iam se passar até
que chegasse o momento. Nada o que fazer até lá, senão ser forte. A vida era
assim. Já que botava um menino em pé, outro estava a caminho. Era preciso. As pernas sentiam o inchaço. O
som cadenciado da agulha passando pela sapata e indo pescar a linha na
lançadeira começava a se perder. Estivesse
ali um maestro, a nota fora do tom não passaria desapercebida.
Quando amanhecesse mandaria chamar a parteira. Não adiantava
mudar o curso. O tempo é sábio e remédio para todas as coisas. Quando esta
chegasse, tudo já estaria bem encaminhado. Então, em alguns minutos um novo acorde seria
ouvido, resultado dos gritos abafados, da ladainha das mais velhas e,
finalmente, pelo choro do rebento. Depois
da primeira manifestação do recém-nascido, os homens, na sala, acenderiam um
charuto pra comemorar. O copo de pinga passava de mão em mão. Se fosse varão, o
pai ficaria ainda mais orgulhoso de sua jornada laboriosa. Enquanto a mãe, na
penumbra de seu quarto simples e de tantos silêncios, se erguia da cama pra fazer
vingar mais um.
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