Sobre amores, flores e amizades

Que bom chegar à primavera de nossas vidas e descobrir que colhemos mais amizades que inimizades. Em tempo de florescer, ninguém quer olhar pelo retrovisor e se dar conta que desperdiçou algumas sementes


© SXC.hu

Ao longo da nossa existência vamos semeando sentimentos e mudando destinos, mesmo em nos darmos conta disso. Deixamos cair uma pitadinha de amor aqui, outra de companheirismos acolá, um pouco de mágoa mais adiante, um tantinho de ingenuidade ali atrás. E assim, vamos escrevendo nossa história e deixando lembranças por onde passamos. Boas ou más, elas abastecem o arquivo de dados sobre nossa personalidade. É nelas que nossos amigos, amores e desafetos vão buscar informações e formar sua opinião a nosso respeito.

E que bom chegar à primavera de nossas vidas e descobrir que colhemos mais amizades que inimizades. Mais alegrias que tristezas. Mais amor que rancor. Em tempo de florescer, ninguém quer olhar pelo retrovisor e se dar conta que ainda tinha sementes a plantar ou que desperdiçou algumas. Já é hora de começar a colheita e brindar as escolhas. Mas nem sempre é assim. Nem sempre se consegue semear tudo o que foi planejado. Os caminhos mudam, as pessoas mudam. E os relacionamentos nos moldam. Muitas vezes desejamos ou sonhamos com algo e acabamos descobrindo, tempo depois, que nos abandonamos pelo caminho, perdemos o objetivo ou apenas deixamos o plantio adormecido.


Este é o curso da vida. Amigos vêm, outros vão. Novos colegas surgem. Paixões se renovam, algumas passam, outras são eternas.  A gente descobre pessoas interessantes todos os dias e perde outras tantas. Mas não é preciso sofrer por isso. Se as sementes foram bem escolhidas, regadas e cuidadas, quando a primavera chegar, somente as flores necessárias brotarão ao nosso lado. Aquelas que escolhemos, as que nos escolheram, que merecem estar conosco e vão seguir nos acompanhando, sempre, independente da estação. As outras chegaram e passaram, deixando apenas um leve sopro de seu perfume no ar. E partiram. Porque todos sempre têm um jardim à espera. 

Texto publicado no caderno Divas, do Jornal ABC Domingo, em 27/09/2015.

Comentários