Eu temo as letras. Eu respeito as ideias. Elas zombam de mim. Tentam me engolir. Ficam me rondando, me tomando de assalto quando bem entendem e como querem. Têm autonomia, vida própria e se divertem com o meu pavor. Será que Saramago já sentou em frente ao computador e pensou: “E agora?” Será que Umberto Eco tem sempre aquele brilhantismo ao escrever? Ou será que eles também se sentem escravos das suas ideias, não conseguem dormir enquanto um texto se desenrola em suas entranhas, saltando em frases prontas? Luis Fernando Verissimo é sempre original, autêntico da primeira vez? Ou já deletou vários textos considerando-os lixo, um amontoado de letras sem sentido?
Eu temo a ausência da criatividade. Ela pode fugir, desaparecer sorrateiramente da mesma forma como surgiu. Sumir, invadir outra mente, outro espaço, me desabitar. Mas onde encontrar tantas diferenças, medos e vontades? Em que outra cabeça poderia viajar, delirar, extravasar? Eu preciso dela. Ela precisa de mim, da minha imaginação sem limites, sem fronteiras, sem gênero.
A minha mão desliza com suavidade pelo teclado, maneja a caneta com afinidade. A intimidade de anos, de muitos delírios despejados, não ao acaso, não ao léu, mas ao sabor dos sentimentos, da vida.
Somos um único ser, eu e minhas ideias. Não posso existir só. Apenas coexistir. Elas vão, elas vêm, sempre com a certeza de encontrar aqui um canal de propagação, um meio de se libertar e deixar de ser apenas as minhas ideias solitárias.
Comentários
Vim agradecer palavras amáveis, e deparo-me com um texto pleno de honestidade e humildade. Coisa rara, diga-se, pois são qualidades que nos permitem abrir portas sem fim.
Obrigado pelo momento, obrigado pelas palavras.
Beijo :)