Quando era pequena, falava inglês embromation, queria ser ginasta, atriz e modelo, cantava e dançava em frente ao espelho fazendo a escova de cabelos de microfone. Quando tinha uns 11, passava noites em claro escrevendo um livro. Tinha rompantes de grande escritora. Arrancava a folha do bloco, amassava e jogava fora. Adorava máquina de escrever. A máquina era o último grito da tecnologia não disponível lá em casa. Então, a gente dobrava uma folha A4 ao meio – que na época se chamava folha de ofício – fazia um canudo enrolando o papel para ficar curvo na dobra e soltava. Depois, ajeitava a folha sobre a mesa com a volta para baixo. em seguida, era só sair teclando.
O som da máquina de escrever de papel era tudo de bom. Igualzino ao da original. Eu era louca por uma máquina de escrever. Tão louca, mas tão louca que nunca consegui ter uma quando mais desejei. É uma daquelas coisas que não se explica na vida. Fui ter lá pelos 24, quando era uma marmanjona e já era quase mais fácil comprar um PC.
Meus primeiros trabalhos na faculdades foram batidos à máquina e corrigidos com Error-ex. Sim, sou do tembo em que se batia à máquina. Digitar é uma coisa muito moderna. Tenho até curso de datilografia. O curso de datilografia era algo, habilitava a um emprego, um diferencial. O cara que não tivesse estava fora do mercado. Eu tinha. E batia com todos os dedos.
Acho que o exercício com a máquina de papel me impeliu à profissão. Ou talvez fosse apenas um sinal não identificado (do tempo). De qualquer forma, preciso refletir se vou ensinar meus filhos a inventar uma máquina de escrever. E ficar atenta à reação. Vai que eles resolvam ser jornalistas...
Comentários
Me sentia tão importante... Quase um adulto.
A máquina está lá.
Ainda martelo algumas coisas na velha Remington, quando bate a nostalgia...
Me sinto tão feliz... Quase uma criança...