Medo do tempo

Passei meses remoendo, pensando na proximidade do meu aniversário, no maior inferno astral, às portas dos 40. Agora foi, pluft. Nada mudou. Não tenho mais medo dos 39. Nem mais, nem menos. Agora meu medo é direcionado a esse número cabalístico. No meu dia, fui surpreendida com presentes, mimos da minha amiga querida, do meu amado e companheiro de todas as horas, desenhos puros e genuínos dos meus filhos e até um fofo parabéns a você tocado no piano por telefone. Amigos, família. Que mais uma sub-40 pode querer?

Mas não é fácil, les digo. É que depois de quase quatro décadas, fazer aniversário já não é mais assim o bicho. Ou melhor, depois de quase quatro décadas fazer aniversário é o bicho papão na sua melhor essência: apavorante e medonho! Será que serei jogada em um depósito para quarentões? E, se amanhã inventarem um adesivo com a inscrição 40 ANOS - FORA DE USO para colar nas nossas costas e nos confinarem em um campo de concentração? Ou pior, se resolverem fazer sabão das pobres criaturas que ousaram atravessar esse limiar? É uma fase divisora. Eu, sendo destacada na multidão, dedos em riste apontando para a minha face e vozes gritando em uníssono: qua-ren-tona, qua-ren-tona, qua-ren-to-na!!!

Deus, quando o despertador do relógio irá tocar? Estou delirando. Francamente, se alguém chegar aqui e me disser que está em crise aos 30 eu mando banir! Vão criar vergonha. Mas aos 40, meu amigo, duvido o ser que não tenha titubeado frente a esta idade cruel. Tem que ser muito forte do juízo. No meio da vida, do caminho, da história. Se descuidar, lá se foram outros 40. E é impossível chegar aqui e não colocar tudo na balança, encontros, desencontros. Perdas e desilusões saltam aos olhos com inexorável força nessa hora. Só tenho uma certeza agora: que momento infame que é a crise dos 40!

Comentários

Muito bom, guria. Nem pense em parar de escrever. Quero ir à tua sessão de autógrafos logo logo. Antes do 40. Beijão.
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