Caiu um avião

Porque será que pensamos, ou consideramos, a morte em acidente aéreo pior que as demais? A comoção em torno de uma tragédia nos ares parece tão maior. Talvez seja porque lá em cima não há para onde escapar. Não dá para pular pela janela, fugir, tentar se esconder. É claro, óbvio demais, tá ali na cara: qualquer pequeno incidente vira meleca certa, sem volta. É a certeza de estar de cara com o desconhecido, o inominável, aquilo que sempre evitamos pensar, quem dirá, encarar.

Lá, nas alturas, estamos todos na mesma condição de vítima em potencial. O presidente da empresa, o cara que vai tentar a vida como imigrante ilegal, o jovem que ganhou a viagem de formatura dos pais, o casal que vai comemorar aniversário de casamento, os pobres, os ricos. A única coisa que nos separa, muito superficialmente, são as divisões criadas pelo próprio homem dentro do avião. Mero subterfúgio para separar o que, no final das contas, poderá se misturar para sempre.

Um acidente aéreo atrai pela beleza final do desconhecido. E nunca vem sozinho. Sempre acompanhado de outros desastres menores. Desgraça em série, efeito cascata que vai contaminando o ambiente. Fica no ar, rondando à espreita. Depois todos esquecemos, incorporamos mais este fato a nossa bagagem. E seguimos. Até o próximo avião cair. Diante de uma desgraça deste porte quase chegamos a desejar uma morte simples, rápida. Quase conseguimos aceitar a nossa condição de meros viajantes nesta nave...

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